Estar feliz me deixa inquieta. Essa é uma grande verdade que luto para mudar, mas ainda é uma verdade. Depois de meses me debatendo contra a constatação de um relacionamento falido, e de outro que jamas passou de uma amizade profunda, após tanto tempo e uma existência pontuada pela sensação de incompletude, uma mente que não parava de se açoitar e cobrar, hoje noto que consegui colocar o trem descarrilado no seu rumo. Andando em frente, docemente balançando no seu próprio ritmo. Esse balançar me ambala. E, estranhamente me da medo.
O medo não vem pela possibilidade de perder o caminho ou cair, de novo, nos tons de cinza - é impraticável viver o hoje preocupando-se com o que está na esquina, fora do campo de visão. É perder o presente e contaminar o que virá. Estar feliz me deixa intranqüila porque me acustumei a ter problemas, cobranças auto-infligidas, lágrimas prestes a ser derramadas.
Isso me entretinha. Sadicamente, me ocupei tanto com minhas próprias tristezas que esqueci de aprender como se faz pra ser feliz. Esqueci como é dormir com alguém que se adora, acordar sem pressa, e ficar maciamente ao lado daquela pessoa, cabeça escostada no peito. Desejar olhar seu rosto, beijá-lo, saber suas opiniões sobre cada insignificante e colossal assunto. Descobrir (com uma curiosidade borbulhante) os pequenos detalhes de sua história, os acontecimentos que fizeram tremer. Como é não precisar impressionar nem se defender todo o tempo. Esqueci como é bom submergir, vez por outra, em um silêncio íntimo que não necessita ser preenchido por palavras vagas. Passei tanto tempo perdida em mim que desprezei como me é vital ser carinhosa, cuidar, e ser cuidada. Esqueci como o sexo pode ser repleto de tesão, paixão e abraços no final. Como é magnífico relacionar-se. Apaixona-se. Esqueci como é bom simplismente ser. Talvez por isso o medo, esse tolo inútil. Sentir me deixar vulnerável: mas me proteger nunca me trouxe nenhum ganho. Eu não quero me proteger de ninguém. Quero apenas ser tranqüila estando feliz.