domingo, 14 de dezembro de 2008

Jamais soube, verdadeiramente, o que significava amar. Não o amor de amigos, família, esse é fácil de distinguir, seja pela força do sangue, seja pelo poder agregador da história em comum. Nunca consegui identificar os indícios da existência do amor quando o envolvido era aquele que entrava na minha vida e permanecia, mudando tantas coisas, acertando outras tão desarrumadas há tempos, adicionando complicação e prazeres. A incerteza estava sempre lá, questionado se aquilo era amor ou apenas uma sensação prolongada de satisfação que, fatalmente, acabaria. E, se acabasse, teria sido amor? Em algum canto de mim morava a certeza tolamente romântica de que que, quando se tornasse realidade, ele curaria minha ansiedade inerente instalaria a tranqüilidade tão desejada, necessária. Mas uma pessoa apaziguou meu tumulto. Então teria sido amor? Os fatos, tão repletos de ausência de sentido em tantos momentos, que me deixam incrédula, rancorosa, triste, seriam apenas pequenos contratempos sem importância comporados ao brilho e à dimensão que a entrada do amor daria a minha vida. Alguns homens passaram por mim, mas a ocasional frustração e a raiva causada por palavras feridas e atos escusos, e a inevitável decepção atrelada e eles, nunca deixaram de me assolar. Se a presença de nenhum deles tornou insignificante minha angústia, teria sido amor? Jamais desejei, com urgência e paixão uterinas, ter filhos com um homem nem sonhei com um grande mesa repleta de netos, noras e genros. Também não me imaginei, idosa, ao lado dele a passear pela rua. E me senti uma subespécie de mulher, isolada do resto da humanidade portadora de belos desejos a longo prazo: Se nunca vislumbrei esse fruto conjunto, teria sido amor? Demorei para aprender, mas hoje compreendo o significado de amar. O meu significa. Amar alguém é curtir o correr dos dias ao lado dele, tirando, a cada oportunidade, o peso devastador das expectativas, porque é da leveza que nasce a harmonia. É sentir (e não saber, o que faz toda a diferença) que ele precisará da minha ajuda tanto quando eu de um ombro para descansar; que o fim não mede a beleza de uma relação, assim como a morte não anula quem fomos; que nada, nem ninguém, arrancará de mim as sensações que me fazem ser quem sou (e que precisarei, sozinha, não destruí-as, mas lidar com elas); entender que a obrigação de me salvar é absolutamente minha. Amar alguém é ter a liberdade de ser.